Assim que o idoso começa a ficar dependente, muitos familiares que não conseguem assumir o compromisso pelos cuidados ficam na dúvida sobre que decisão tomar para garantir o bem-estar e a segurança.
Deixar com um cuidador ou colocá-lo em uma casa de repouso? Para escolher e não errar, é necessário antes conhecer as características de cada serviço e considerar alguns fatores. “Não é algo fácil. Sugiro à família avaliar as condições financeiras para arcar com esses cuidados.
O local para oferecê-los. A rotina, pois contratar um cuidador, por exemplo, afeta a dinâmica da casa e de quem mora nela. E tem ainda a questão legal, não pode ser um único cuidador formal por 24 horas”,enumera Paulo Camiz, geriatra e professor do HC-FMUSP (Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo).
Cuidador evita mudança de casa
Caso o idoso demande acompanhamento integral, a família vai precisar de, no mínimo, dois cuidadores durante a semana mais um folguista e se responsabilizar pelas despesas da casa do idoso e pelo que acontece dentro dela com todos. Contratar por uma agência de cuidadores pode sair caro, mas assumir o papel de recrutador também dá muito trabalho e envolve riscos.
“A vantagem de ter um cuidador, além do acompanhamento particular, individualizado, é que não exige do idoso uma adaptação a um ambiente novo e que pode ser estressante”, explica Camiz. Se a escolha for essa, mesmo assim a família deve revisar e adaptar a moradia do idoso para que ela seja segura, considerando sua locomoção, bem-estar e necessidades.
O cuidador também pode servir como um auxiliar em situações específicas, quando o idoso mora com alguém, mas precisa de supervisão à noite ou temporariamente durante ausências.”Também é uma boa alternativa quando o idoso é lúcido e faz questão de morar sozinho, mas requer um suporte por perto, não obrigatoriamente o tempo todo, mas conforme sua demanda”, aponta Alessandra Fiuza, geriatra da BP – A Beneficência Portuguesa de São Paulo.
Mas não pode ser qualquer pessoa
Vale lembrar que o cuidador tem que ser alguém qualificado e os motivos não faltam: ele vai conviver na intimidade da família, partilhar a vida e a casa do idoso, monitorá-lo, prestar auxílio em tarefas complicadas para ele, administrar medicamentos e, se for preciso, até mesmo cuidar do idoso acamado ou limitado por alguma condição, o que muitas vezes exige conhecimentos específicos.
Para contratar alguém por conta própria e com segurança, é imprescindível se atentar a detalhes e definir pré-requisitos básicos a serem preenchidos. Perguntar ao cuidador sobre experiências e referências, atividades que desempenhava, habilidades, o tempo que ficou empregado e o porquê de ter saído.
A família também vai precisar negociar horários, salário (o valor pode variar por hora ou por prestação de serviços), folgas, fazer um contrato de trabalho e coordenar, supervisionar e orientar as atividades do cuidador.
Casa de repouso favorece as interações
As ILPIs (instituições de longa permanência para idosos) podem ser convenientes quando o idoso exige, além de segurança, acessibilidade e conforto, pontos importantes que nem sempre sua casa pode oferecer, cuidados multidisciplinares e uma socialização maior.
O idoso tem a opção de se mudar de vez ou se instalar por um período que a família não consegue estar presente, e por 24 horas terá à disposição uma equipe de profissionais para atendê-lo.
“Um residencial bom pode ser mais econômico e oferecer cuidados, talvez melhores, do que se o idoso estivesse em casa. Mas existe muito preconceito, principalmente por quem acha que deixar em uma instituição é abandonar. Pelo contrário, é cuidar melhor e o idoso pode ser mais feliz, tendo convívio com outras pessoas e atividades físicas e mentais”, afirma Camiz.
No entanto, o geriatra lembra que é preciso compreender que a casa de repouso não é a própria casa. “Terá que aprender a dividir espaços e, às vezes, até o próprio quarto. Se não tiver condições de pagar por um individual, é quarto duplo, triplo, para gerar economia e isso implica também conviver com pessoas que podem ter dinâmicas e rotinas diferentes da sua”.
Idoso não pode se sentir traído
Quando se trata de um idoso pleno de suas faculdades mentais, mesmo dependente, ele deve ser consultado sobre a tomada de decisão sobre seu futuro e participar desse processo. Não respeitar isso fere inclusive o estatuto do idoso. Esse assunto tem que ser discutido de maneira tranquila, didática, racional e levar em consideração opiniões, temores e dúvidas do idoso.
“Ele precisa ser consultado, porém, nem sempre cabe a ele a decisão de aceitar ou não. Vai depender da condição financeira da família, se tem alguém que pode ou não ficar com ele. É preciso compreender isso”, explica Marina Vasconcellos, psicóloga e terapeuta familiar pela Unifesp (Universidade Federal de São Paulo).
“Para não se sentir traído, caso vá para uma casa de repouso, tem que se conversar bastante antes, de forma amorosa e com mais pessoas para explicar todos os motivos e as vantagens. Não pode levar à força, enganar ou não contar nada”.
A família também não pode abandonar, seja em uma instituição ou com um cuidador. “O idoso necessita de acompanhamento, principalmente quando lúcido, para perceber que as pessoas se importam com ele, o amam, estão presentes e não entrar em depressão. Os parentes têm que telefonar e visitá-lo para saber dele e verificar os cuidados ofertados. Em relação à casa de repouso, alguns idosos, mesmo com essa atenção, realmente não se adaptam e precisam voltar para a própria casa o que exigirá uma restruturação familiar sobre cuidados”, completa Marina.
Fonte: https://www.uol.com.br/vivabem/
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