Cuidar de um idoso exige bastante paciência, tempo e dedicação.
Muitas vezes, o cuidador é uma pessoa bastante próxima e tem um vínculo afetivo com quem necessita de assistência constante. Alguns idosos ainda precisam de cuidados em tempo integral para realizar as atividades mais simples do dia a dia como comer ou tomar banho.
É comum que os cuidadores relutem bastante e cheguem no seu limite antes de procurar ajuda profissional e decidir colocar o idoso em uma instituição de longa permanência (ILP) —conhecidas popularmente como casas de repouso.
Essas instituições são residências para idosos que podem precisar de cuidados médicos constantes ou apenas ajuda para tomar banho, por exemplo.
“A decisão de institucionalização do idoso deve ser discutida com toda a família. O momento ideal é quando os familiares já não conseguem mais tomar conta do idoso, com dificuldade para ofertar os cuidados necessários”, explica Paulo José Fortes Villas Boas, geriatra e colaborador da Frente Nacional de Fortalecimento às Instituição de Longa Permanência da SBGG (Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia).
De acordo com o especialista, as causas mais frequentes de institucionalização do idoso são: restrição física e imobilidade, incontinência fecal e quadros de demências com alteração de comportamento, além de ausência de suportes sociais e baixa renda.
“Em certas situações, a institucionalização se faz necessária quando há necessidade de reabilitação, ausência temporária do cuidador domiciliar, estágios terminais de doenças e dependência elevada”, completa Villas Boas.
Mas, o que deve ser levado em conta na hora de escolher o local em que o ente querido passará a maior parte de seus dias? Confira, abaixo, algumas dicas para avaliar uma casa de repouso e definir qual é a melhor opção para o idoso.
1. Equipe multidisciplinar
Geralmente, os idosos estão mais frágeis e apresentam diversas doenças, além de dependência para se locomover e realizar atividades diárias. Por isso, podem precisar de profissionais de diversas áreas da saúde como enfermeiros, médicos, fisioterapeutas, nutricionistas, fonoaudiólogos e de assistência social.
Vale a pena checar no local quais profissionais ficam na instituição todos os dias ou semanalmente. Além de qual acompanhamento o idoso receberá no dia a dia. “Pelas exigências da Anvisa, não há a necessidade de ter uma equipe multidisciplinar, apenas uma enfermeira. Geralmente, há um médico responsável, mas nem sempre há a visita regular desse especialista, como alguns locais oferecem”, diz Paulo Camiz, geriatra e professor da FMUSP (Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo).
2. Instituição regularizada
É fundamental escolher uma instituição regularizada. Por isso, o local precisa ter um estatuto registrado, registro de entidade social, regimento interno e o alvará de funcionamento da vigilância sanitária local. A documentação pode ser obtida na própria instituição ou junto à autoridade de saúde da região. Vale a pena ver se ela tem um cadastro no Conselho Municipal do Idoso.
Durante a admissão, é realizado um contrato entre a instituição de longa permanência para idosos e o residente e/ou familiares. Nesse documento é especificado os direitos e as obrigações da entidade em relação ao idoso. É importante ler com atenção todos os itens.
3. Observe as instalações
Antes da institucionalização, é importante observar as instalações do local. Isso garante que os idosos sejam tratados com respeito e dignidade. Entre os requisitos, é preciso checar se a casa de repouso oferece segurança e dá privacidade. Por isso, é importante que os cuidadores e familiares chequem se a limpeza está sendo realizada de forma adequada.
Também é preciso verificar o ambiente —se há iluminação, corrimãos, piso antiderrapante, barras nos banheiros, escadas, luz de vigília e indicações visuais. Já os quartos precisam ter campainhas, espaço para manobra de cadeira de rodas, guarda-roupas individuais e também ver o número de camas por quarto. No refeitório vale conferir a disposição das mesas, como são servidas as refeições e o armazenamento de alimentos.
FICA A DICA:
“Visite a ILP em diferentes horas do dia e interpele os profissionais sobre as condições de trabalho e o cuidado fornecido. Converse com os residentes sobre o cuidado ofertado. Veja também se há um planejamento para casos emergenciais”, indica Villa Boas.
4. Respeito à individualidade
O idoso precisa ter um local adequado para guardar e usar os seus objetos pessoais. Ele também necessita ter liberdade para realizar as interações sociais e é fundamental que as suas práticas religiosas, por exemplo, sejam respeitadas.
“É importante realizar visitas em diferentes horários e observar o carinho e a paciência no cuidado ao idoso. Imagine seu familiar ali naquele momento onde estão todos juntos e veja se o perfil dos residentes é parecido com o perfil do seu ente querido”.
5. Fique de olho na alimentação oferecida
Outra questão importante é averiguar como são preparadas e servidas as refeições. Há idosos que possuem restrições alimentares, como é o caso de pessoas com diabetes ou hipertensão. Nessas situações, é preciso ter atenção redobrada com a dieta. É necessário que ocorram pelo menos seis refeições diárias — café da manhã, almoço e jantar e lanches intermediários. Cheque se as refeições são elaboradas por um nutricionista.
A instituição deve seguir as normas de higiene e rotina adequadas que garantam a limpeza, diminuam o risco de contaminação e o preparo correto dos alimentos. “É importante averiguar se a casa possui alvará sanitário e se as questões técnicas da cozinha estão corretas. Mas com o passar dos anos, o idoso pode sofrer perda do paladar, o que torna o sabor do alimento muito importante, além da preocupação com o aspecto nutricional, essencial no processo do envelhecimento”, destaca Neves.
6. Cheque o funcionamento das visitas
Visitar o idoso que está em uma casa de repouso é muito importante para manter o vínculo afetivo, diminuir a saudade e ter certeza que ele está sendo assistido adequadamente. Por isso, antes da institucionalização, é fundamental saber como funciona a rotina das visitas — horários, dias permitidos, frequência semanal e número permitido de visitantes.
Outra questão importante é ter a visita liberada, sem a necessidade de agendamento. Mas, com a pandemia, ocorreu uma mudança nas visitas —algumas foram suspensas ou diminuíram bastante para evitar o contágio pelo Sars-CoV-2 dos residentes. Isso porque os idosos estão no grupo mais vulnerável à infecção por covid-19.
“O fato de possibilitar visitas sem restrições, com exceção dessa fase de pandemia, conta pontos a favor das instituições. Se ela libera a visita por 24h, aponta que não tem nada a esconder dos familiares”, destaca Camiz.
Quantas pessoas moram nessas instituições e quais são os valores?
Ainda não há um número exato de quantas pessoas vivem em instituições de longa permanência no país. De acordo com o último levantamento do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica), realizado em 2011, existiam mais 70 mil idosos em casas de repouso. E a maioria estava vinculada às redes filantrópicas.
“Um importante aspecto observado é a inexistência de cadastro único das ILPs no Brasil. Porém, calcula-se que tenhamos mais de 5.000 instituições com mais de 300 mil residentes. No censo de 2018 do Sistema Único de Assistência Social, foram avaliadas 1.451 instituições de caráter público ou filantrópico com cerca de 78 mil residentes”, completa Villa Boas.
A maioria das famílias de classe média e alta recorrem a instituições privadas. E os valores variam bastante de acordo com os serviços oferecidos —entre R$ 600 a R$ 15 mil. Há casas de repousos que oferecem quartos compartilhados ou individuais e também ocupação mista entre homens e mulheres. Já outros, considerados de alto padrão, oferecem aulas de zumba, jogos, sessões de cinema e até mesmo passeios externos. Tudo isso interfere no valor da mensalidade.
“O governo oferece muito poucos residenciais para idosos para quem não consegue arcar com as despesas. Há poucas instituições nesse sentido, mesmo com o crescimento exponencial da quantidade da população idosa o Brasil”, opina Camiz.
Quando a hora chega
Desde setembro do ano passado, o artista plástico Vado Mesquita, 61, resolveu internalizar a mãe e as duas tias. Ele conta que a decisão não foi fácil, mas percebeu que isso era o melhor para todos naquele momento. “É um processo muito angustiante. Procurei um local que acolhesse as três, tivesse uma área externa com jardim, bons profissionais e uma instalação adequada. Realizo visitas frequentes e elas fazem diversas atividades manuais, aulas de música, caminhadas e leituras”, diz.
Mesquita destaca a importância de buscar o local com calma, uma vez que essas instituições costumam ser caras. “Muitos cobram taxas extras para incluir serviços. Pedi recomendações a amigos, conhecidos, profissionais de saúde que cuidavam delas e pesquisei muito. Depois, fui conhecer alguns antes de optar pelo residencial”, afirma.
Lidando com a culpa
Após institucionalizar o idoso, é comum que os cuidadores sintam remorso, culpa, medo e até alívio. Mas essa decisão envolve questões muito individuais. Segundo os especialistas, o cuidador precisa lembrar que a decisão de institucionalizar foi tomada justamente para que todos se sentissem melhor e os idosos tivessem os cuidados adequados.
Segundo Juliana Emy Yokomizo, psicóloga e colaboradora do Proter (Programa Terceira Idade) do IPQ (Instituto de Psiquiatria Hospital das Clínicas) da Faculdade de Medicina da USP, cada pessoa deve buscar sua própria maneira de lidar com esses sentimentos.
“Algumas possibilidades para isso são: manter uma rotina de visitas ao idoso, dando atenção maior a datas especiais para ele, como aniversário e feriados. Além de conhecer e manter contato com os profissionais da instituição. Vale falar do assunto com amigos e familiares e procurar ajuda profissional quando necessário”, afirma.
A psicóloga reforça que o familiar pode sentir que está abandonando aquele indivíduo ou que não deu conta das responsabilidades como cuidador. “Mas, geralmente, o cuidador não deixa de ser cuidador, ele só não estará mais na ‘linha de frente’, no entanto ainda cuidará do gerenciamento geral como pagamento da instituição, compra de medicamentos e levar a consultas médicas”, afirma Yokomizo.
Após esse período de adaptação à mudança, é importante que o cuidador possa retomar atividades e rotinas que costumava fazer antes e que lhe davam prazer. Se, ainda assim, houver dificuldades, um suporte psicológico pode ajudar nesse processo.
Fonte: https://www.uol.com.br/vivabem
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