Cuidar de um parceiro ou cônjuge recém-diagnosticado com Alzheimer ou demência está associado a um aumento de 30% em sintomas depressivos, em comparação com adultos mais velhos que não têm um cônjuge com demência —e esses sintomas são sustentados ao longo do tempo, é o que mostra um estudo da Universidade de Michigan (EUA) publicado no Journal of Applied Gerontology em 29 de Agosto.
“Essa depressão sustentada ao longo do tempo é importante porque os parceiros costumam ser cuidadores por muitos anos”, afirma Melissa Harris, doutoranda na Escola de Enfermagem da universidade e autora principal do estudo.
A pesquisa sugere que a depressão pode aumentar após um evento traumático —diagnóstico de câncer, acidente, morte— mas que a maioria das pessoas retorna à sua saúde emocional anterior. Isso não aconteceu com os cuidadores.
Os pesquisadores analisaram dados do Estudo de Saúde e Aposentadoria dos EUA de 16.650 adultos mais velhos: aqueles sem um parceiro com diagnóstico de demência, aqueles com um parceiro cujo diagnóstico foi nos últimos dois anos e aqueles com um parceiro cujo diagnóstico foi há mais de dois anos.
O número médio de sintomas depressivos relatados por idosos com parceiros sem demência foi de 1,2. Pessoas cujos parceiros foram diagnosticados nos últimos dois anos relataram sintomas adicionais de 0,31 (aumento de 27%) e aqueles com parceiros diagnosticados há mais de dois anos relataram sintomas adicionais de 0,38 (aumento de 33%). Os pesquisadores ajustaram as diferenças sociodemográficas, de saúde e de comportamento de saúde dos parceiros.
“Isso pode não parecer um grande aumento nos sintomas depressivos, mas pense em se sentir deprimido ou inquieto todos os dias. Isso pode significar muito na vida de um cuidador”, comenta Harris.
Pandemia só piorou situação
O isolamento social causado pela pandemia só aumenta a carga do cuidador. “A pandemia está afetando adversamente os cuidadores familiares por causa do isolamento social e também porque outros recursos foram cancelados ou agora têm acesso limitado”, diz a autora.
“Muitos cuidadores disseram que já se sentiam socialmente isolados e que a pandemia apenas ampliou esses sentimentos”, afirmou.
A maioria das pessoas nos estágios iniciais de demência ainda vive em casa e é cuidada por parentes não remunerados, principalmente parceiros e cônjuges.
Cuidando de quem cuida
Ser cuidador de um parente envolve muita dedicação —às vezes até integral e por longos anos— causando um desgaste físico e até mesmo mental do cuidador. É comum que desenvolvam uma condição conhecida como estresse do cuidador, ou seja, uma tensão emocional decorrente do cuidado.
Alguns sinais merecem atenção: ansiedade e/ou depressão; perder o contato com amigos; estar sempre exausto; irritação frequente; sem energia; negligenciar a própria saúde; dores no corpo; sentir culpa quando está longe; ficar sempre preocupado e com pensamentos negativos; falta de concentração; dores frequentes de cabeça ou estômago; imunidade baixa e falta de tempo para o lazer.
Para diminuir a sobrecarga, o primeiro passo é estabelecer uma rotina de cuidados reais, ou seja, fazer o que é necessário e não buscar a perfeição. Se puder, é fundamental dividir as tarefas e admitir que precisa de ajuda para dar apoio à pessoa assistida.
Outra questão é conseguir ter tempo para o lazer e evitar o isolamento. Procure manter relacionamentos com outras pessoas, não apenas com quem é assistido. Geralmente, os cuidadores passam longas horas cuidando do outro e esquecem que precisam de pausas ou de realizar atividades que tragam prazer como leitura ou assistir um filme. É necessário também manter a atividade física, tentar realizar um alimentação equilibrada e dormir bem.
Em alguns momentos, o cuidador percebe que está no seu limite. Muitos sentem uma depressão intensa e/ou mudam de comportamento, ficando mais irritados ou propensos a agressões ou desrespeito ao idoso ou pessoa doente.
Fonte: https://www.uol.com.br/vivabem
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