Quando você pensa em doença de Parkinson, imediatamente vem à mente um idoso cujas mãos tremem quando estão paradas. E apesar de este ser um dos sintomas mais importantes na descrição da doença, não é o único e muito menos presente em todos os pacientes. “Entre 30 a 40% dos parkinsonianos não apresentam este sintoma”, explica o neurologista William Rezende do Carmo, especialista em Parkinson, sono e distúrbios do sono.
Conhecer as comorbidades é importante para conviver melhor com o quadro e com quem o possui: “muitas vezes o próprio familiar não consegue entender as comorbidades do paciente, acha que seu avô ou seu pai é preguiçoso, fica muito parado, não quer levantar, fala baixinho, como se fossem questões relacionadas à vontade dele”, explica o neurologista Henrique Ballalai, professor afiliado Livre-Docente do Departamento de Neurologia e Neurocirurgia da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
Por isso, veja a seguir os outros sintomas mais comuns de Parkinson:
Sintomas motores
Além do tremor durante o repouso, que não necessariamente ocorre só nas mãos, o Parkinson é descrito com o aparecimento de outros sinais motores, como:
- Rigidez muscular: os músculos ficam mais duros e podem até ficar doloridos
- Acinesia ou brandicinesia: é uma condição específica do Parkinson em que os movimentos se tornam lentos, mas sem perder a força
- Alteração na postura e equilíbrio: o paciente pode apresentar uma leve inclinação para frente, dificuldades ao andar e maior risco de quedas.
Hoje são esses sintomas motores, também chamados de cardinais, que determinam o diagnóstico, mesmo com os próximos sintomas às vezes aparecendo mais cedo. “Hoje obrigatoriamente é necessário o paciente apresentar os sintomas motores para batermos o martelo do diagnóstico, mas se um dia desenvolvermos algum teste específico de Parkinson, poderemos diagnosticar precocemente”, esclarece Ballalai.
Redução do olfato
Sintoma conhecido há pouco tempo, hoje ele inclusive é usado como diferencial de diagnóstico para Parkinson, já que mesmo os sintomas motores podem confundir este quadro com outras doenças.
“Não se sabe ao certo por que, mas o processo degenerativo do Parkinson atinge também as células que conectam o nariz ao cérebro, o que afeta não só o olfato, mas também o paladar”, considera o neurologista Ballalai.
Mas nem sempre essa percepção é sentida pelo paciente. “O processo é muito gradual, então o paciente vai perdendo essa sensação tão devagar que se acostuma”, explica o neurologista Rezende do Carmo.
Constipação
O Parkinson pode afetar o sistema nervoso autônomo, responsável pelas funções do organismo que são realizadas automaticamente, sem que tenhamos consciência – como respirar ou piscar.
Isso também interfere na mobilidade do intestino, o que pode trazer a famosa prisão de ventre. Além disso, a constipação também pode ser agravada pelos medicamentos usados no tratamento.
Os cuidados nesse caso são os mesmos que para qualquer tipo de constipação: mudanças na alimentação, como inclusão de fibras e água. “O mais importante aqui é o olhar do médico, pois se o paciente parkinsoniano relata esta dificuldade, o médico pode ajudar de forma mais efetiva”, observa o neurologista Henrique Ballallai.
Distúrbios do sono
Uma pessoa com Parkinson pode ter uma série de distúrbios do sono, como insônia (no começo ou final da noite), síndrome das pernas inquietas, noctúria (necessidade de fazer xixi a noite muitas vezes), apneia do sono, etc… Como consequência, o paciente não dorme bem. “Isso gera uma sonolência excessiva, o que aumenta o risco de quedas”, frisa Ballalai.
E quando pensamos nas causas desses problemas, principalmente na insônia, existe a possibilidade de os próprios sintomas motores serem os responsáveis pelos despertares ou microdespertares (aqueles que não são perceptíveis, mas cortam o ciclo do sono) ao longo da noite.
“Muitas vezes os tremores ou a imobilidade noturna associada a uma posição desconfortável podem levar à interrupção do sono”, esclarece o especialista. Nesses casos, os medicamentos que melhoram a parte motora também ajudam no sono.
Demência
A doença de Parkinson está ligada à redução da dopamina, substância química do cérebro que as células nervosas usam para ajudar a controlar os movimentos musculares. O Parkinson ocorre quando as células nervosas do cérebro que produzem essa substância são destruídas lenta e progressivamente. Essas células estão depositadas na substância negra.
No entanto, hoje se sabe que esse quadro também afeta outros neurônios, por isso ocorrem os sintomas de demência em quadros mais avançados.
“Essa degeneração ocorre principalmente na parte mais externa do cérebro, o córtex cerebral”, explica o especialista Ballalai.
Por isso, com o avançar do quadro, o parkinsoniano pode apresentar alucinações, esquecimentos e até uma perda na autonomia. Muitas vezes, no entanto, como o paciente já está velhinho, essa característica do Parkinson é confundida com outros tipos de demências, como o Alzheimer mesmo.
Depressão e ansiedade
A dopamina (ou, no caso, sua ausência) não interfere apenas nos movimentos do paciente. Ela, assim como a serotonina, está ligada ao nosso humor. Baixos níveis de dopamina do corpo podem causar sintomas de depressão, ansiedade, pessimismo e irracionalidade. “Estes são os problemas que, inicialmente, tiram mais o bem-estar do paciente”, considera o neurologista Rezende do Carmo.
Nesses casos é importante seguir um tratamento especializado, que pode pedir medicamentos antidepressivos e até mesmo o acompanhamento de um psiquiatra.
Descontrole urinário e disfunção erétil
Nos casos em que o Parkinson afeta o sistema nervoso autônomo, as funções urológicas do paciente podem ficar prejudicadas. “Esse sistema regula a entrada de sangue para o pênis e o funcionamento do esfíncter da bexiga, entre outras funções. Quando prejudicado, pode levar a problemas como incontinência urinária e disfunção erétil”, cita Ballalai.
Fonte: www.minhavida.com.br
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