O bem-estar psicológico e a saúde estão intimamente ligados nas idades mais avançadas. Podem ser distinguidos três aspectos do bem-estar psicológico: bem-estar avaliativo (ou satisfação com a vida), bem-estar hedônico (sentimentos de felicidade, tristeza etc.) e bem-estar eudemônico (senso de propósito e significado na vida).
Os cientistas Andrew Steptoe, Angus Deaton e Arthur A. Stone publicaram o artigo científico “Psychological wellbeing, health and ageing” (Bem-estar psicológico, saúde e envelhecimento), em que revisam os recentes avanços nesse campo e apresentam novas análises sobre o padrão de bem-estar entre as idades e a associação entre bem-estar e sobrevivência em idades mais avançadas.
O Gallup World Poll está fazendo uma pesquisa em mais de 160 países e que mostra uma curva em forma de U, quando avalia bem-estar e idade nos países ricos de língua inglesa, sendo que os vales (os níveis mais baixos de bem-estar) apresentam-se nas idades entre 45 e 54 anos. Mas esse padrão não é universal: por exemplo, os entrevistados da antiga União Soviética e do Leste Europeu mostram um grande declínio progressivo no bem-estar com a idade. A América Latina também mostra queda no bem-estar com a idade, enquanto o bem-estar na África Subsaariana mostra pouca mudança com a idade.
A avaliação de vida em forma de U costuma ser considerada padrão e foi recentemente descoberta em primatas não humanos (Weiss A et all, Evidence for a midlife crisis in great apes consistent with the U-shape in human wellbeing).
Um estudo da Gallup-Healthways Wellbeing nos EUA permitiu uma comparação entre avaliação da vida e bem-estar hedônico (A snapshot of the age distribution of psychological well-being in the United States), que seguiu o formato U com o vale em meados dos anos 50, quando há queda no bem-estar, mas é o momento em que se ganha mais.
A relação entre saúde física e bem-estar subjetivo é bidirecional, um implica no outro. Os idosos que sofrem de doenças como a coronariana, artrite e pulmonar crônica apresentam níveis elevados de humor deprimido e comprometimento do bem-estar hedônico e eudemônico.
O bem-estar também pode ter um papel protetor na manutenção da saúde.
Em uma análise ilustrativa do Estudo Longitudinal Inglês do Envelhecimento (ELSA), os cientistas descobriram que o bem-estar eudemônico está associado a uma maior sobrevida, 29,3% das pessoas no quartil de bem-estar mais baixo morreram no período médio de acompanhamento de 8,5 anos, em comparação com 9,3% das pessoas no quartil de mais alto nível.
É a confirmação do dito popular: tristeza mata!
As associações eram independentes de idade, sexo, fatores demográficos e saúde mental e física basal. Concluímos que o bem-estar do idoso é um objetivo importante para a política econômica e de saúde.
As atuais teorias psicológicas e econômicas não respondem adequadamente às variações no padrão de bem-estar com a idade em diferentes partes do mundo. A aparente associação entre bem-estar e sobrevivência é consistente com um papel protetor de alto bem-estar, mas explicações alternativas não podem ser descartadas nesta fase.
Mario Eugenio Saturno (cientecfan.blogspot.com) é Tecnologista Sênior doInstituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e congregado mariano. Fonte: https://tribunadovale.com.br/ Foto: Freepik