Existe uma série de noções controversas sobre o envelhecimento e as queixas de dor.
Em estudo realizado pelo periódico norte-americano Journal of Familie Practice, existem alguns mitos relacionados à dor no idoso.
Um deles é achar que dor é parte natural do envelhecimento. Ou que a dor piora com o envelhecimento. Enfrentar a dor aumenta a sua tolerância.
Apesar de a dor ser uma questão de extrema importância no mundo todo, ainda é pouco acessada e tratada na população.
E infelizmente, as crenças que nós, Profissionais da Saúde, e nossos pacientes temos sobre dor no envelhecimento, servem muitas vezes como barreiras ao tratamento adequado de uma lesão ou doença.
Isso traz consequências em diversos aspectos. Por exemplo, foi publicado, em 2006, um estudo que mostra que as pessoas com 50 anos de idade que possuíam uma percepção positiva de si mesmas em relação ao seu envelhecimento, apresentaram melhores condições de Saúde pelas próximas duas décadas. Ainda viveram, em média 7 anos e meio a mais do que àquelas com visão negativas da mesma idade.
1o mito: A dor é uma parte natural do envelhecimento.
Comumente ouvimos que dor é uma consequência natural do envelhecimento. E essa crença é acompanhada por frases como “é assim que sabemos que estamos vivos, porque dói”.
Pessoas com idade acima dos 70 anos com osteoartrite de joelho possuem ainda mais arraigada essa crença quando comparados com idosos mais jovens. Você supostamente deverá sentir mais dor à medida que envelhece.
Apesar de a dor crônica ser comumente associada a condição de envelhecimento, são muitos os estudos que não conseguiram encontrar qualquer relação com essa informação.
E por pior que pareça, um estudo levantou dados de profissionais da saúde demonstrando como os mesmos acreditam ser inevitável o processo de envelhecimento se associar a queixas de dor – o que acaba culminando com aquelas frases durante a consulta: “O que você espera? Você simplesmente está ficando mais velho”
Nos Estados Unidos, o Centro Nacional de Estatísticas de Saúde (National Center for Health Statistics) apresentou em 2012 que 29% dos adultos entre 45-64 anos queixaram-se de dor aguda enquanto esse valor caiu para 21% nas pessoas com idade de 65 anos ou mais.
Além disso, uma meta-análise comparou a percepção de dor com relação a idade. E houve maior prevalência de dores crônicas aos 65 anos. Esse número decresceu com o aumento da idade. Mesmo acima dos 85 anos as pessoas não viram relação entre suas idades e suas dores.
Na verdade, muitas desordens relacionadas à dor crônica são menos frequentes no avançar da idade.
Há uma diminuição na prevalência das dores de pescoço, coluna lombar baixa e da face entre os adultos idosos quando comparados com adultos jovens. Também menores são as reclamações de dor de cabeça e dores abdominais.
Estudos epidemiológicos também afirmam que há declínio das dores musculo-esqueléticas com o avançar da idade. Por incrível que pareça, o estudo de Smith e colegas em 2010 apresentou uma dor inversamente correlacionada com a idade nos últimos 2 anos de vida. Ou seja, antes da pessoa vir a falecer, suas queixas de dores foram inversamente proporcionais ao avançar de sua idade.
Portanto é válido revisar o momento em que tomamos a decisão de achar que a dor é normal no processo de envelhecimento, pois são duas condições diferentes. Uma queixa de dor que não passa não deve ser vista como normal, fruto da idade, mas sim um alerta de algo em nossos corpos.
É importante dizer e sobressaltar que essa série não está expondo sobre a dor do Câncer.
Rafael Turqueto Duarte é Fisioterapeuta pela Universidade Federal de São Carlos (2011), Universidade Federal de São Paulo – Escola Paulista de Medicina – CETE (2013). Trabalha com Terapias Manuais – Mobilização do sistema nervoso – Neurodynamic Solutions (2011), Mobilização Mulligam (2014), praticante de Qi Gong desde 2000 e estudante de conceitos e tratamentos para dor. Atende no Instituto Saúde & Dor.
Fonte: https://idosos.com.br/
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